Índia, para os fortes

Há alguns anos atrás a Lu comentou de visitarmos a Índia, na época falei pra ela que não estava preparado espiritualmente para visitar a Índia, porém nessa trip incluímos esse exótico país no roteiro. Continuo achando que não estou preparado.

A Índia é um contraste de cores, templos, sujeira, buzinas, simpatia, crenças, religiosidade, divisões sociais, sagrado, descuido, pobreza, necessidades e grandiosidades. Imputar definições para uma das culturas mais antigas do mundo é no minimo insensato, de forma alguma farei isso. Vamos as percepções e impressões que esse país deixou em nós.

Nossa chegada no moderno  aeroporto Indira Gandhi em Nova Déli nos deixou surpresos e já com aquela pergunta que nos acompanha sempre. “Estaremos nós novamente enganados sobre o que achávamos que sabíamos sobre a Índia?” Mas infelizmente não. É só sair do aeroporto, para pegar o transporte que nos levaria ao hotel, e já deparamos com o que seria uma constante durante toda nossa estadia nesse país, o transito intenso e as buzinas incessantes. O transito na Índia é totalmente desordenado, um vai e vem de carros, ônibus,  vans, tuc-tucs, motos, bicicletas, pedestres (sim, os pedestres dividem os mesmo espaço com os veículos), vacas, carroças puxadas a camelos e até elefantes. Em muitos lugares não é possível definir qual é a mão, pois os veículos vem de todas as direções e claro, BUZINANDO. Segundo um de nossos guias são necessárias três coisas para se dirigir na Índia: bom freio, boa buzina e boa sorte.

O sistema de castas também chamou muito a nossa atenção, ele é aplicado aos hinduístas e está dividido em 4 principais, e estes subdivididos em outra centenas, vamos lá:

  • os brâmanes (sacerdotes e letrados) nasceram da cabeça de Brahma;
  • os xátrias (guerreiros) nasceram dos braços de Brahma;
  • os vaixás (comerciantes) nasceram das pernas de Brahma;
  • os sudras (servos: camponeses, artesãos e operários) nasceram dos pés de Brahma.

A margem dessas castas ainda existem os párias (sem castas) conhecidos hoje como intocáveis, que vieram da poeira debaixo dos pés de Brahma.  A constituição da Índia proíbe a discriminação com base nas castas e nas grandes cidades é possível que as atividades profissionais sejam exercidas por pessoas que nasceram em castas diferentes das que são determinantes para exercer aquela atividade, coisa que nas zonas rurais ainda não são aceitas. De maneira alguma são aceitos casamentos entre pessoas de castas diferentes e nas grandes cidades é até possível o ‘casamento por amor’, o cartório realiza o casamento e indica na certidão que o casamento foi realizado  por amor, mas a sociedade não aceita e o casal geralmente tem que mudar de cidade.

Visitamos o local onde foi cremado Mahatma Gandhi e também o local onde ele foi assassinado. A história de Gandhi é riquíssima, mobilizando toda a nação indiana contra a colonizadora Inglaterra, no movimento de independência, com protesto de desobediência civil, sem violência e boicotando os produtos importados, especialmente os ingleses.

São muitas as religiões convivendo nesse país, as principais são o Hinduísmo, o Budismo o Jainismo e o Sikhismo (originarias da Índia), o Islã e o Cristianismo. Os Hindus são cerca de 80% da população e tem 330 milhões de Deuses, sendo a tríade principal formada por Brahma, Vishnu e Shiva. A vaca é o veículo de Brahma e por isso é sagrada para os hindus, mas hoje elas andam soltas pelas ruas e não são tratadas com tanto respeito assim, estão mais para cachorros de rua buscando comida nas lixeiras e atrapalhando o transito do que para um ser sagrado. Os ritos religiosos junto ao Rio Ganges atraem centenas de peregrinos e turistas, eles acontecem a noite e ao nascer do sol, sempre num sentindo amplo de ajudar na evolução da humanidade. O Rio Ganges é sagrado e de enorme importância aos Hindus, nas suas margens acontecem os ritos, as cremações e os banhos purificadores. Tivemos contato com o  Ganges em Varanasi e Rishikesh, nesta última cidade, muito próxima da nascente do Ganges, o rio é limpo e nos encorajamos até a entrar em suas águas.

Em Khajuharo estão os templos que inspiraram o Kamasutra. É um impressionante conjunto de mais de 20 templos, que originalmente eram 85, e que contem imagens do cotidiano e principalmente imagens eróticas e de sexo. Os estudos sugerem motivos muito variados para as imagens, vão desde a necessidade de ensinar sobre sexo ao povo até que os reis de Chandela, que construíram os templos, eram seguidores dos princípios tântricos, que ditam o equilíbrio entre as forças masculinas e femininas, e estamparam sua fé nos templos que criaram.

Saindo do circuito turístico, fomos visitar uma pequena vila onde vivenciamos um pouco do cotidiano dos indianos. Estávamos nas vésperas do Dewali, festa religiosa hindu, conhecida também como festival das luzes, que simboliza a destruição das forças do mal, e para essa data as pessoas limpam seus terrenos, pintam suas casas, compram roupas novas e sempre se presenteiam com algo novo para suas casas. Nessa pequena vila muitas famílias estavam pintando suas casas e passando no piso uma mistura com base no cocô da vaca, que depois de seca, endurece e fica como um contra-piso, o qual eles pintam. Essa mistura pintada tem o efeito estético e também uma função de assepsia, pois afasta das casas os mosquitos transmissores de diversas doenças, inclusive malária.

Em Agra encontra-se o famoso Taj Mahal, o mausoléu construído pelo  imperador Shah Jahan em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal (“A joia do palácio”). A história é longa e complexa, mas em resumo, depois da construção do Taj Mahal, o rei foi deposto, ficou prisioneiro no palácio, passava os dias contemplando o Taj Mahal até ser morto por seu filho e enterrado ao lado da esposa. O conjunto arquitetônico é lindo e de uma riqueza de detalhes impressionante com suas pedras semipreciosas encrustadas no mármore branco, tudo numa perfeita simetria (quebrada apenas pelo tumulo do imperador colocado ao lado da sua esposa).

A meses o Caio está programando seu encontro com os encantadores de cobras da Índia, ele achava que iria encontrar muitos, em todas as esquinas. Pois já se passavam muitos dias e nada das cobras, somente vacas para todos os lados, chegou até a falar que havia se enganado e que não havia cobras na Índia. Mas finalmente em Jaipur conseguiu encontrar os encantadores e suas serpentes, ficou maravilhado e realizado.

Rishikesh é conhecida como a capital de yoga do mundo. Considerada uma cidade santa pelos hindus, aqui é proibido comida não vegetariana e bebidas alcoólicas. A natureza é exuberante, o Rio Ganges é limpo e há muitas empresas que promovem rafting em suas fortes correntezas. Presenciei uma cremação na margem do Ganges, fiquei a distancia e fiz algumas fotos, pouco tempo depois se aproximou um jovem que participava da cerimonia, pensei que de alguma forma iria me repreender por estar ali fotografando, mas ao contrario disso, ele se aproximou na intensão de eu fizesse umas fotos dele na cremação de seu avô. Fiz as fotos e encaminhei a ele. A naturalidade com que encaram a morte é bastante surpreendente.

O misticismo da Índia que leva tantos a essas terras não nos abraçou. Talvez estivéssemos com os olhos voltados para outras questões, ou um pouco mais preocupados com algumas situações praticas de cuidados com alimentação e consumo de água, que não demos espaço para o espiritual. Mas de qualquer maneira foi uma rica experiencia.

4 Respostas para “Índia, para os fortes

  1. Pessoal, o blog de vocês está muito Rico. Pude reviver um pouco do que passamos lá. Sou aquela moça que vcs encontraram em Varanasi, no hotel (Jamile). Anotei o blog e fiz questão de reencontrar vocês ainda que de longe. Um beijoo grande, boa viagem!

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