Camboja e Myanmar

Chegamos em Siem Reap no Camboja no final da tarde e ‘Flor’ (o nome espanhol escolhido pela nossa guia) já nos esperava no aeroporto. A cidade muito pequena é composta basicamente por grandes hotéis e dois pequenos centros. Um destinado aos moradores e outro aos turistas chamado “Pub Street”, com restaurantes, lojas e boates. A uma distância de 320 km da capital Phnom Penh, a maior cidade do país, Siem Reap é uma cidade que vive basicamente de turismo e cresce a medida em que o complexo ‘Angkor Wat’ – Patrimônio Cultural da Humanidade UNESCO desperta a curiosidade do mundo, principalmente depois do filme Lara Croft Tomb Raider, estrelado por Angelina Jolie e filmado num dos templos do complexo. O país tem uma história bastante complicada, dura e sangrenta, mais depois de muitas guerras internas e externas, vive um ‘momento político estável’ apesar das influencias de países vizinhos. Flor nos pareceu uma pessoa bastante consciente e nos contou um pouco da sua história que se mistura com a história recente do país. Nascida num campo de refugiados na Tailândia, só pode voltar ao Camboja com seus pais e irmãos e meio irmãos aos 14 anos. Sua mãe ficou viúva aos 22 anos e casou com seu pai no campo de refugiados que também viúvo já tinha 2 filhos do primeiro casamento. Ambos perderam seus companheiros na última guerra civil que se iniciou na década de 70 e durou cerca de 20 anos.

O Camboja também tem um Rei que vive na China, não tem herdeiros e parece que nem muito interesse pelo seu povo. Quem governa é o Primeiro Ministro que pertence ao único partido do país. Muito duro e corrupto, mantém o povo pobre e ignorante. Todas as grandes empresas e licenças de exploração dos recursos naturais do país são concedidos a seus parentes e amigos. Estas informações foram relatadas por ela que também nos contou que a cultura de corrupção é tamanha que oficialmente o custo para se tirar uma carteira de identidade é de US$ 4,00, mais por este valor você dá entrada no documento sem data para recebê-lo, então as pessoas se sujeitam a pagar US$ 135,00 de ‘propina’ e conseguir o documento em cerca de 30 dias. O mesmo acontece com as certidões de nascimento, habilitação e passaporte. Enfim, a maior parte da população não tem emprego, nem dinheiro e nem documentos. Muitos fogem para a Tailândia a pé e somente com a roupa do corpo se sujeitando a todo tipo de trabalho para sobreviver. Nada fácil…

De fato, o complexo de templos e as montanhas perto da cidade são atrações imperdíveis, assim como a comida e a simpatia de seu povo. Partimos de lá com um grande aperto no coração e uma esperança infundada de um futuro melhor.

Depois deste baque chegamos em Myanmar, o último país desta região bastante preocupados. Este foi um país que pensamos muito antes de confirmar e quase o tiramos do roteiro por conta do conflito interno com os Rohingyas (etnia muçulmana). Tem pouca informação na Internet para entender o que de fato está acontecendo e como nossos contatos no país ‘minimizaram’ o conflito…acabamos arriscando e confirmando a visita.

A chegada em Yangon (capital do país) foi tranquila e do aeroporto fomos direto para a nossa primeira visita tentando entender com Zawzaw, nosso simpático guia de saia, chinelo e bolsa hippie o que acontece atualmente na ex Birmânia, bastante influenciada por seus vizinhos Índia e China, dominada pela Inglaterra por muitos anos e depois por uma ditadura militar e que vive a ‘democracia’ há pouco mais de 1 ano. Ficamos um pouco descrentes das informações iniciais e durante o período no país e ganhando mais intimidade com Zawzaw, fomos entendendo melhor não só sobre este como diversos outros conflitos que aconteceram e acontecem em diversas regiões, os acordos entre o governo e os grupos em conflito por motivações históricas, econômicas, étnicas, religiosas e políticas. A remanescente pressão dos militares ao atual governo, a ausência de uma imprensa forte, enfim, uma situação bastante complicada.

No total foram 5 dias no país entre Bagan com seus mais de 2 mil templos budistas e a região do Lago Inle, local de tradição de pesca, casas, pagodas e mercados flutuantes. Dois lugares belíssimos, extremamente cenográficos com um povo receptivo e sorridente, que nos pareceu viver lá melhor que no Camboja.

Saímos do país junto com o Papa e também torcendo para que eles tenham dias melhores e possam viver em paz.

Do sudeste asiático nosso destino seria Bali, mais durante nossa visita a Mianmar um dos vulcões da ilha começou a dar sinais de vida e mesmo com o vôo confirmado, resolvemos não arriscar. Por isso, antecipamos nossa chegada a Austrália parando 2 dias de escala em Kuala Lumpur na Malásia.

 

2 Respostas para “Camboja e Myanmar

  1. Queridos não tenho.palavras pra agradecer por nos instruir.de forma tão sutil e verdadeira. Apesar da beleza de cada lugar, sempre expõem as realidades boas e difíceis por trás daquilo que os olhos admiram. Assim como no nosso querido Brasil, maquiado de avanços tecnológicos e democracia, a história injusta e sangrenta de Camboja nos leva a refletir sobre as condições daquelas vidas. A ditadura sobre a miséria reina desde os antigos impérios e não podemos transformar o mundo sozinhos, no entanto, quando passamos esse conhecimento a outros não estamos mais sozinhos e a torcida pela transformação daquele lugar, ganha volume. Hoje me sinto responsável por visitar muitos países com outro olhar, graças a vcs! A verdade realmente nos liberta da ignorância e nos faz fortes e conscientes. Á beleza de cada lugar que passaram está registrada com carinho mas a realidade que sustenta cada uma delas não passou despercebida. Parabéns por essa visão cósmica e obrigada por nos incluir no time. Amando viajar com vcs!!😉😍😘

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  2. Algumas fotos parecem cenário do Senhor dos Anéis …
    Mas a maioria das construções muito belas .
    O texto,Lu… Achei super claro … No final deste bloco tbm senti muita pena das pessoas deste lugar q sobrevivem e ainda riem , não é ? Como é q pode ?
    Os q vivem sobre a água então …. Só c muita meditação ….
    Tem q desenvolver o espírito mesmo …
    Aqui temos uma grande parte da população tbm sobrevivendo pelo enorme instinto de conservação do ser humano …
    Tenho pensado muuuito nisso ….

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